A rosa intocável na redoma de vidro
Parece que os autistas constroem um mundo só para eles. Eles vivem entre nós, ouvem tudo o que acontece e falamos, porém, simplesmente ignoram e se colocam em uma redoma de vidro, resistente a barulho e qualquer intervenção e ali vivem suas vidas. É como se fosse um mundo a parte, "vivam suas vidas aí e eu vivo aqui, no meu mundinho". Eles são tão acostumados com isso, que nem se importam. Já quem está de fora desse mundo, acha no mínimo curioso e consegue entender que o que se passa ali, à volta daquela criaturinha interessante, pertence só a ela e não existe convite para entrar.O mundo dele é tão dele, que quando tento entrar e fazer uma "limpeza", ele simplesmente se revolta e coloca tudo de volta, conforme havia deixado. Claro que ele fica feliz quando eu limpo suas caixas de areia. Mas a caixinha com os panos onde ele dorme, toda manhã está toda fora do lugar. A caixa gigante que deu à luz um ar condicionado voou direto pro quarto dele e lá ele se esconde todos os dias. Eu limpo, coloco em um canto. No outro dia, se eu arredar a caixa, misteriosamente aparecerá umas gotinhas de xixi, que cuidadosamente ele marcou, como em outros lugares do quarto. Fora isso, quando ele sai do quarto, definitivamente não quer respirar o mesmo ar que o meu. Quer logo sair, ver as árvores, a grama alta, os pássaros - talvez correr atrás de alguns e se assustar com outros. Fica fora uma hora, duas, 3. Quatro horas depois estou aflita, desesperada... Onde está ele? E ele aparece, quando já havia me dado por vencida. Aparece sem reação alguma, como se estivesse fazendo um favor ou já tivesse voltado à tempos. Simplesmente se joga no chão e ali tira um cochilo, enquanto eu, a sua volta, faço o fundo musical melancólico (ou chato) daquele momento dele... "Você voltou pra mamãe! A mamãe tava preocupada! Não pode fazer isso meu gato! e Blá, blá, blá Whiskas sachê.
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