Os autistas fazem de conta que você não existe, às vezes. Pelo menos no mundo dele, naquele momento - e você até pode ter chamado a atenção dele - ele não quer que você faça parte. Você pode ficar dias, semanas e meses sem vê-lo. Ele não vai fazer muito esforço para te receber. E é necessário respeitar.
Os gatos jamais assumirão que você faz falta. Você dificilmente irá surpreendê-lo, a não ser que seu pote de ração esteja vazio ou seu leitinho tenha acabado. O que podem fazer é reclamar, do seu jeito, caso tenham sentido uma porcentagem de abandono. Ah, você pode passar dias, semanas e meses sem vê-lo. A expressão será a mesma: não fará muito esforço para te receber. Não tem outra opção: respeite!
Os autistas parecem não sentir dor quando caem, ralam o joelho, batem a cabeça ou algum machucado em alguma brincadeira.
Os gatos são valentes. Se machucarem, pode doer, sangrar, mas eles não vão se deixar abalar. Vai curar e você não vai nem ter conseguido examinar o probleminha. Ou problemão. Na verdade eles nos consideram uns exagerados.Depois de um mês e meio sem ver minha família na serra catarinense, cheguei em Curitibanos e, claro, ele estava lá. A minha irmãzinha, quando me viu, correu, num salto, e agarrou minha cintura, dizendo "que bom que você chegou, dindinha". Ele não. Quando eu chamei, ele veio, porque realmente passei muito tempo fora e como somos muito amigos, ele até denunciou um pouco de saudade e ficou intrigado do porque da demora. Olhou, sério, disse "Oi dindinha, você demorou pra voltar pra casa", 'Quando você vai pra Cresciúma de novo?", perguntou, não me expulsando de casa, mas para tirar a dúvida que questionou logo em seguida, "você vai me levar pra Cresciúma no sábado?". E ficou ali, por um instante, me observando com aquele olho verde. Me deu um abraço. Com o Maikel ele foi indiferente. O Maikel é parceiro de bagunça, mas não chega ao ponto de permitir que ele entre em sua intimidade. Inclusive com esse parceiro ele aprontou muito ao decorrer desses dias. Caiu, machucou, ficou com hematomas, bateu a cabeça, escorregou muitas vezes, correu muito. Não sentiu cansaço, nem dor. Coisa muita autista. Me falou um pouco sobre as gatas, apontando para a Queridinha, que estava lá, para me receber. Tão preocupada e intrigada quanto o Gregory, mas não creio que ela quisesse ir a Criciúma. Apenas miou e saiu. Então o meu autista preferido perguntou pelo gato, o que havia ficado em Criciúma.
Ficou em uma casa, que acolheu ele na Páscoa, que, para nós, durou 4 dias, tamanho da minha viagem. Não sei se ele gostou, mas deve ter sido mais interessante que ficar trancado em um quarto. Resultado da Páscoa: um machucado na barriga, que será um eterno segredo de como conseguiu, já que não pode falar e ninguém, até eu ver, tinha reparado. Não sente dor; come e brinca como antes. Coisa muito autista. Um enigma. E quando cheguei, no domingo a noite, para irmos para nossa casinha, nenhum sinal de que sentiu minha falta. Ingrato. Nem me olhou no rosto, nem miou. Ingrato.
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